« QUEREMOS UTILIZAR O DINHEIRO DA C.E.E. PARA PROSSEGUIR O
PROCESSO REVOLUCIONÁRIO », declara João Martins Pereira, ex-secretário de
Estado da Indústria
Le Monde, 14 de Agosto de 1975
O quotidiano Libération
publicou, no seu jornal de 13 de Agosto, uma longa entrevista a João Martins
Pereira, ex-secretário de Estado da Indústria de Portugal, próximo do Movimento
de Esquerda Socialista (MES), que se demitiu do 4º. Governo Provisório em Julho
passado.
Está-se sempre a falar de independência nacional neste país sem nunca se ter jogado essa carta - salienta João Martins Pereira. Ora, uma parte considerável da pequena
burguesia poderia ser mobilizada em torno de um programa efectivo de
independência nacional. O Mercado Comum prepara-se, diz-se, para receber
Portugal, para lhe emprestar dinheiro. Desde que nós tenhamos uma “democracia
pluralista”... Portanto, procura-se a todo o custo mostrar que, nos documentos
do MFA, é efectivamente de uma democracia pluralista que se trata. É
exactamente o contrário do que se deveria fazer. Ninguém empresta biliões por
generosidade, mas porque espera disso um resultado político. É preciso falar a
linguagem que os nossos interlocutores da CEE compreendem: isto é, a dos
negócios. Dizer-lhes claramente que nós temos dois interesses diferentes. Nós
queremos utilizar o dinheiro da CEE para fazer o contrário do que ela deseja:
prosseguir o processo revolucionário. Se nos emprestam dinheiro, é na esperança
de ter influência sobre o que se passa aqui. Se recusamos esse empréstimo, é
preciso medir as consequências: Portugal pode “safar-se” caindo completamente
sob a dependência de Moscovo. É portanto a CEE que decide. Mas não tem que
pôr condições. É isso a independência nacional. Ora esta expressão tem sido
sempre utilizada como um “slogan”. Talvez porque, em Portugal, o imperialismo
não se faz sentir com o mesmo peso que numa América Latina, por exemplo, onde o
ódio ao americano é omnipresente. Aqui, o imperialismo é qualquer coisa de muito
abstracto; é preciso desmascará-lo quotidianamente na prática.