Interroguei-me seriamente (e, obviamente, o editor) sobre a oportunidade de publicar uma nova edição de um texto demasiado datado, cujo campo de observação era o Portugal no início dos anos Setenta. E não me foi finalmente difícil concluir que, se houve altura, após o 25 de Abril, em que tal reedição se justificasse, essa era precisamente o período que agora atravessamos. Com efeito, em condições económico-sociais substancialmente distintas, o III Governo Constitucional e em muito menor medida o actual são os novos portadores do projecto que germinou ao tempo dos “tecnocratas” marcelistas, e de que o Pensar Portugal procurava traçar as linhas de força, e as fraquezas também.
Certo era que, porque justamente as condições são outras, se tornava indispensável fazer a ponte entre o projecto então enterrado e o projecto hoje renascido. Daí que me tenha proposto escrever um texto adicional em que, através do exame do que entretanto ocorreu, se possa compreender as razões essenciais por que, sendo aparentemente o mesmo projecto, e os mesmos muitos dos homens que o incarnam, na realidade o não são, nem um nem outros.
JMP, Prefácio à 3ª edição de Pensar Portugal Hoje